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Mudança na régua de medição do Guaíba abre discussão sobre a cota de inundação

A redefinição da cota de inundação do Guaíba, a partir da nova régua de medição, é um processo técnico e complexo, ainda em andamento.

O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) suspendeu temporariamente o uso da cota de três metros como referência oficial de inundação do Guaíba. A decisão vem na esteira de suspeitas de desnivelamento da nova régua instalada pelo governo do Estado, o que pode exigir a redefinição da cota de cheia do lago.

Contexto e Alteração da Régua de Medição

Historicamente, a medição do nível do Guaíba era realizada na estação “Cais Mauá – C6”, no centro do Cais Mauá. Entretanto, em 2 de maio, a estação foi destruída pelo avanço das águas, levando à instalação emergencial de uma nova régua e sensor de medição em um ponto próximo ao Gasômetro, cerca de 2,5 quilômetros ao sul da localização original. Essa mudança, apesar de necessária, trouxe consigo desafios técnicos que estão afetando a continuidade dos dados históricos.

A nova estação, instalada em um momento crítico de elevação rápida do nível do Guaíba, pode ter sido afetada por uma inclinação significativa das águas, resultando em um possível desnivelamento. Hidrólogos do IPH, incluindo Rodrigo Paiva, destacam que se o desnivelamento for confirmado, será necessário definir uma nova cota de inundação para o novo ponto de medição. Isso porque a referência de três metros usada na antiga estação pode não ser válida para a nova localização, onde a régua atual indica níveis de água que parecem estar mais altos do que o esperado.

— Agora será necessário definir, para este novo ponto de medição, qual será a cota de inundação e, consequentemente, quanto falta para o fim da cheia — explicou Rodrigo Paiva, responsável pela emissão dos boletins diários de projeção do Guaíba.

O governo do Estado, através da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), afirmou que continua considerando a cota de três metros como referência de inundação do Guaíba. Segundo a Sema, a nova régua está funcionando corretamente e fornece parâmetros válidos para o monitoramento da cheia. Contudo, há uma aceitação de que “ajustes futuros” poderão ser necessários, como indicado em uma nota emitida em 24 de maio.

Desafios Técnicos e Avaliações Futuras

A nota técnica divulgada pelos hidrólogos do IPH aponta que, apesar das medições da nova estação serem consideradas confiáveis no contexto atual, elas não podem ser diretamente comparadas com os dados históricos da estação original. Isso implica que os dados produzidos pelas duas estações serão tratados como séries independentes, exigindo uma nova análise para estabelecer a cota de inundação no novo ponto de medição.

Os pesquisadores do IPH, como Fernando Fan e Matheus Sampaio, destacam que, durante a elevação e o pico do Guaíba, a declividade da linha d’água pode ter sido significativamente alterada, influenciando as leituras da nova régua.

— Isso significa que o patamar de três metros adotado como referência de cota de inundação no ponto de medição original do Cais Mauá corresponde a um valor mais elevado no ponto da nova régua instalada e oficialmente usada — conforme a nota técnica dos hidrólogos.

A redefinição da cota de inundação do Guaíba é um processo técnico e complexo, ainda em andamento. A mudança de local e a instalação emergencial da nova régua foram medidas necessárias para garantir a continuidade do monitoramento. No entanto, a confirmação de um possível desnivelamento exige uma revisão cuidadosa e detalhada para garantir a precisão dos dados e a segurança da população. O IPH e o governo do Estado estão trabalhando em conjunto para resolver estas questões e fornecer informações precisas sobre os níveis do Guaíba.

Boletim de Previsões Atualizadas

No boletim mais recente emitido pelo IPH, os cenários de previsão indicam uma recessão lenta da cheia, com níveis ainda elevados, mas em declínio. Os hidrólogos continuam a monitorar a situação, considerando as chuvas recentes e a influência dos ventos, que podem causar oscilações temporárias nos níveis do Guaíba.

É recomendada atenção às áreas recentemente drenadas e à população afetada, com ações imediatas para a manutenção das infraestruturas essenciais. A colaboração entre as equipes técnicas e os órgãos governamentais é crucial para enfrentar os desafios hidrológicos e proteger a comunidade.

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Magdalena Schneider

Magdalena Schneider

Bacharel em Psicologia pela Faculdade IENH; especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Universidade Estácio de Sá.
Natural de Dois Irmãos / RS, mora em Porto Alegre desde 2020, e compartilha aqui suas experiências pela capital gaúcha.